quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Revelando o artista


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Colega que prefere ficar anônimo enviou-me estas quadrinhas, quem mandou? Ei-las publicadas, bardo irresponsável!

VANDALISMO
(Augusto dos Anjos)

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de
priscas e longínquas datas,
Onde um
nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Com os velhos Templários medievais
Entre um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!



BANDALHISMO
(Aldir Blanc)

Meu coração tem
butiquins imundos,
Antros de ronda, vinte-e-um,
purrinha,
Onde trêmulas mãos de vagabundo
Batucam samba-enredo na caixinha.

Perdigoto, cascata, tosse, escarro,
um choro soluçante que não para,
piada suja, bofetão na cara
e essa vontade de soltar um barro...

Como os pobres otários da Central
já vomitei sem lenço e
sonrisal
o
P.F. de rabada com agrião

Mais amarelo do que
arroz-de-forno
voltei pro lar, e em plena dor-de-corno
quebrei o vídeo da televisão.


ENROLISMO
(Zé
Piagê)

Meu coração tem laboratórios lacrados,
Salas de aula e auditórios vazios,
Onde um cara vagabundo descarado
Entortou o ensino com desvarios.

Destempero resultado da preguiça,
Desfaçatez por conluio de escrotos,
Nada se ensina aos pobres garotos
Tratados igual burros na cavalariça.

Tal qual os bem colocados do Enem,
que escolhem ir prá longe, e além,
a permanecer na aridez agrária,

Ao vexame de já estar pré-aprovado,
E já no segundo exame liberado
Na pilhéria cara da burrice hilária!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

COMO DETER O PROGRESSO

ou
COMO OS FÍSICOS PLANEJARAM O CNPq
Em A Fundação Mark Gable (1963), o físico Leo Szilard viaja de uma época para outra fazendo-se criogenizar durante algumas décadas. Conhece um bilionário aturdido pelo sucesso do seu banco de esperma (o que prometeu "bebês Nobel", alguns anos mais tarde, ficou entupido de encomendas) e preocupado em aplicar inteligentemente seu dinheiro. Como não pretende fazer qualquer coisa que seja para o avanço da ciência, "já excessivamente rápido", o narrador lhe sugere que faça alguma coisa para retardar o progresso científico. Eis sua receita:

...O senhor poderia criar uma Fundação, dotada de 30 milhões de dólares por ano. Os pesquisadores pobres poderiam pedir uma subvenção, sob a condição de quê seus argumentos fossem convicentes. Organize dez comissões, compostas cada uma de 12 cientistas e dê-lhes como tarefa transmitir estes pedidos. Tire de seus laboratórios os cientistas mais ativos e nomeie-os membros dessas comissões. Pegue os maiores cientistas do momento e faça-os presidentes, com honorários de 50 mil dólares por ano. Crie 20 prêmios de cem mil dólares a serem atribuídos às melhores publicações científicas do ano.
Em que isso retardaria o progresso?
...Primeiro, os melhores cientistas seriam tirados de seus laboratórios, e gastariam seu tempo nas comissões, transmitindo os pedidos de subvenção. Depois os trabalhadores cientistas pobres se empenhariam em resolver os problemas frutíferos que lhes permitiriam quase certamente chegar a resultados publicáveis. É possível que a produção científica cresça enormemente durante alguns anos. Mas ao buscar apenas o óbvio, a ciência logo se esgotará. Irá tornar-se algo como um jogo de sociedade. Alguns assuntos seriam considerados interessantes, outros não. Haveria modas. Os que seguissem a moda receberiam subvenções, os outros não. E aprenderiam, bem rápido, a seguir a moda.
Texto chupado do livro abaixo, seguindo os princípios norteadores da plagicombinação (estética do plágio) e da tecnologia do arrastão, propriedade do defeito de fabricação pensar da obra transculturalista de Tom Zé "Com defeito de fabricação"